Arte brasileira é chamada de fraca por jornal inglês; João Portinari rebate

Com relação ao artigo publicado no dia 2 de fevereiro no jornal inglês The Observer por Laura Cummings,rpg.bet, não posso deixar de responder, chocado com sua desinformação sobre a arte brasileira, que ela descreve como "Baffingly weak art" (Arte incrivelmente fraca), sem qualquer esforço de sua parte para fundamentar seu desprezo por nossos artistas. E também por seus leitores,Promoções de cassino, que ela diz serem incapazes de reconhecer um único nome entre os pintores mais importantes de nosso país.

Ela estende seu desprezo ao próprio Brasil, que descreve como "uma nação convulsionada por ditaduras e golpes"

A reportagem se refere à abertura da exposição "Brasil! Brasil! O Nascimento do Modernismo" na Royal Academy de Londres.

Sabemos que a Sra. Laura Cummings, autora desse texto, é a crítica de arte do renomado The Observer e também uma escritora de sucesso. O que torna ainda mais surpreendente e intrigante essa crítica mordaz sobre os 10 artistas brasileiros da exposição.
Mas não é de se estranhar que ela tenha optado por repetir a mesma postura perpetrada por Sir Sacherell Sitwell (da exclusiva linhagem de graduados do Eton College), quando apresentou o Catálogo da Exposição-Aleilão de Arte Brasileira na mesma Royal Academy, em 1944.

Esse episódio, hoje esquecido até mesmo aqui no Brasil, foi objeto de uma pesquisa recente do diplomata Hayle Gadelha, intitulada "Diplomacia Pública na Linha de Frente".

A "Exposição de Pinturas Brasileiras Modernas", realizada na Royal Academy of Arts de Londres e em sete outros locais importantes do Reino Unido em 1944 e 1945, foi a primeira mostra coletiva de arte brasileira exibida no Reino Unido e a maior já enviada ao exterior até então.

Foi resultado de uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e idealizada por 70 pintores modernistas que doaram 168 obras de arte como contribuição ao esforço de guerra da Força Aérea Real Britânica. Apesar de sua relevância histórica e escala inigualável, esse evento nunca havia sido investigado academicamente.

Voltando ao "Sir" Sacherell Sitwell, eis o que ele escreveu:

"... Para a perplexidade do leitor, imediatamente após elogiar eloquentemente o dom dos artistas, contemplando como eles haviam 'redigido com tanta delicadeza um tributo ao corpo de jovens que salvaram a civilização e mantiveram os brutos mecanizados longe de nossas costas', Sitwell afirma condescendentemente que 'o mínimo que podemos fazer é levar a pintura deles a sério e tentar, em troca, ajudá-los com nossas críticas..."

Sem comentários.

Quanto ao texto da Sra. Cummings, embora defenda sua liberdade de expressão, não posso me calar diante da forma arrogante, pretensiosa e superficial com que ela menospreza a arte brasileira.

Depois de chamar de "terrível" uma obra de Lasar Segall e dizer que "lamenta muito" ter visto uma tela de Tarsila do Amaral, a autora questiona "como foi concebida a lista do elenco". "Ou, de fato, o que se espera que alguém descubra sobre a arte brasileira a partir de uma mistura tão estranha de pastiches fracamente adaptados do modernismo europeu, realismo socialista grosseiro e súbitos lampejos de originalidade".

Com que credenciais escrevo esta resposta?

Minha formação é um PhD do Massachusetts Institute of Technology - MIT (1966), seguido pela fundação do Departamento de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1967), do qual fui chefe de 1968 a 1970, aos 30 anos de idade.

A partir de então, passei a me dedicar ao Projeto Portinari, que fundei em 1979 e que presido até hoje.

Entre as muitas realizações desses 45 anos de trabalho está o Catálogo Raisonné "Candido Portinari - Obra Completa", que, em cinco volumes e mais de 5.000 páginas, registra 4.991 obras do pintor, publicado em 2004.

Foi o primeiro Catálogo Raisonné das Obras Completas de um pintor ao sul do equador. Nem mesmo os mexicanos, que adoram seus pintores, haviam publicado algo assim. Nem Rivera, nem Siqueiros, Tamayo, Orozco, Frida Kahlo, etc., tinham Raisonnés de suas obras...

Também realizamos a exposição "Guerre et Paix, de Portinari: Un Chef D'?uvre Brésilien pour l'ONU", no Salon d'Honneur do Grand Palais, Paris, em 2014.

E realizamos uma ampla gama de atividades socioeducativas com o objetivo de levar a grande mensagem ética e humanista de Portinari às crianças e aos jovens mais afetados pelo processo de exclusão.

Em 2023, fui agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico pelo Presidente Lula, a mais importante comenda brasileira do setor, e em 2012 a Associação Brasileira de Críticos de Arte me elegeu Personalidade do Ano.

Não é preciso dizer que, diante do exposto, sinto que não devo comentar sobre os outros pintores, que foram igualmente menosprezados pela crítica de arte Laura Cummings.

Mas acredito que tenho legitimidade suficiente para criticar o que ela escreve sobre Candido Portinari.

Ao atacar a falta de explicação dos curadores para cada uma das obras, a autora do artigo usa o caso do pintor como exemplo.

De acordo com ela, a partir da exposição, "você não saberia que Candido Portinari (1903-62) - provavelmente o artista nacional do Brasil durante essas décadas - não foi apenas um pintor de heróicos trabalhadores do café e enormes murais de trabalhadores rurais, mas também de arte religiosa. Ou que ele deixou mais de 5.000 obras quando morreu de envenenamento por chumbo de suas próprias tintas a óleo aos 58 anos de idade."

Se ela estava interessada em dizer quem era Portinari, tudo o que tinha a fazer era citar "o que se sabe" sobre ele.

Como, por exemplo, que seu One-Man Show no MoMA em 1940, que atraiu mais de 2.000 pessoas na noite de sua abertura, incluiu a cúpula do cenário artístico da época, entre celebridades como Nelson Rockefeller, Helena Rubinstein, Arthur Rubinstein, etc.
Ou que a primeira visitante de sua exposição na Howard University, em Washington, foi a primeira-dama Eleanor Roosevelt, para falar apenas do mundo anglo-saxão, da mesma família do autor.

Ou que sua exposição em Paris em 1946 lhe rendeu a Légion d'Honneur, concedida pelo governo francês, e críticas como esta de um dos mais renomados historiadores de arte da França de todos os tempos, René Huyghe:

"... Portinari é um dos maiores pintores de nosso tempo. Seu poder é enorme. Na manhã em que vi todas as suas telas, tive um choque emocional tão grande que saí da Galeria Charpentier com um verdadeiro cansaço nervoso. À tarde, eu não conseguia trabalhar. Eu estava realmente cansado..."

Ou que seus afrescos enriqueceram as paredes da Biblioteca do Congresso em Washington desde 1941.

E que seus painéis "Guerra e Paz", um presente do Brasil para a sede da ONU em Nova York e instalados lá em 1957, foram declarados pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz Dag Hammarskjold, então Secretário-Geral da ONU, como "as mais importantes obras de arte doadas à ONU".

No final de seu artigo, ela volta a questionar a qualidade dos pintores brasileiros e alerta que a exposição parece ser dirigida "não pela arte, mas pela história da arte".

É de se perguntar: isso é ignorância ou má-fé? Preconceito? Eurocentrismo? Arrogância e pretensão?

Parabéns, Sra. Cummings, por "nos ajudar com sua crítica", como seu antecessor, Lord Sitwell, pretendia...

Por que uma nação tão rica cromaticamente, socialmente dramática e etnicamente diversa como o Brasil produziria pintores considerados menos significativos do que os de outros países?

Isso me lembra de uma experiência que tive ao orientar os visitantes na exposição Portinari no Grand Palais em 2014. Uma jornalista francesa me perguntou: "Quem é o Sr. Portinari?" Ofereci-me para guiá-la por sua vida e obra. Quando destaquei suas realizações e seu reconhecimento internacional, seus olhos se arregalaram de surpresa. Quando destaquei sua grande exposição em Paris, em 1946, e a subsequente concessão da Légion d'Honneur pelo governo francês, ela exclamou: "Uau, então Portinari é o Picasso do Brasil?"

Respondi: "Com certeza, senhora, desde que a senhora chame o Picasso de Portinari espanhol..."

Opinião

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